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terça-feira, 5 de agosto de 2014

(Re)conhecendo a cultura - Salvador de onde?

Espanha: Estação Design - Salvador Dalí

Bienvenidos a Espanã!

Demorou, mas atravessamos o Atlântico e chegamos ao velho continente. Durante duas semanas fiquei 'viajando', pensando no que eu poderia acrescentar à vida de vocês e cheguei a seguinte conclusão: eu sou péssimo para desenhar e tampouco gosto, mas tenho uma enorme paixão em ver pinturas e me sentir, mesmo que por um instante, um talentosíssimo artista diante delas e, é por isso, que resolvi abordar essa temática e quem sabe, descobrir mais artistas anônimos como eu por aí.

Para quem chegou agora, estamos (no trem-do-(re)conhecer) em uma viagem ao redor do mundo para (re)conhecer a cultura de cada lugar no âmbito das artes. Tenho a visão de ir mais afundo e não somente mostrar a cultura e minha visão dela, mas também mostrar quem sou, minha visão do mundo e agregar à vida de vocês, mesmo que pouco, um conhecimento a respeito das artes, de artistas, dos lugares e quem sabe, alguns valores e princípios que tenho comigo. 

A Espanha é um dos países de maior prestígio na Europa e no mundo, responsável por um dos idiomas mais falados no planeta, com cerca de 500 milhões de falantes, por lei, é um estado laico, mas predomina o catolicismo como religião, país adepto à sustentabilidade, considerado desenvolvido, dividido por 17 comunidades autônomas, sendo Catalunha uma das mais importantes, o turismo é uma das suas principais fontes de renda e é também a melhor forma de conhecer a cultura desse país. 

No meio cultural, que é onde iremos nos concentrar nessa viagem, os espanhóis ao longo de sua história, sofreram uma grande influência tanto de outros povos e nações como também do espaço geográfico que os cercam, possuem uma cultura considerada 'cultura europeia'. Dentre tantos aspectos culturais a serem abordados, hoje falaremos apenas de um dos nomes mais importantes, ao lado de Pablo Picasso, da arte espanhola: Salvador Dalí.

Salvador Dalí, Paris, 1950.
Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí i Domènech, que faleceu em 1989 aos 84 anos, foi um artista da era moderna que ficou conhecido por seus trabalhos surrealistas, que tinham influência dos mestres do Renascimento e das Vanguardas, como cubismo e dadaísmo. Além de ter sido pintor e desenhista, Dalí foi fotógrafo, escultor, teve alguns trabalhos com a sétima arte, compôs algumas poesias com a mesma tendência de suas pinturas, surrealistas. Frequentou a Escola de Belas Artes, mas foi expulso, após dizer que lá não havia ninguém competente para julgar suas obras.

Era um daqueles caras sem modéstia, que queriam sempre atenção, não se contentava em apenas fazer suas obras de arte e delas sobreviver, ele era parecido com aquele seu amigo, que leva a vida na zoação, que você jurava que ele seria um vendedor de coco na praia ou um camelô, mas ele, seu amigo, provavelmente, assim como Dalí, sempre teve consciência do que fazia. Não é atoa que Salvador Domingo Felipe Jacinto Dalí, se tornou o amado e odiado Salvador Dalí, que inclusive, em uma de suas citações apoia minha visão de ser um artista diante de obras de arte:

"Sem uma audiência, sem a presença de espectadores, essas jóias não iriam cumprir a função para a qual anseei. O espectador, então, é o melhor artista." - Dalí, 1959. As Jóias de Dalí.

Apesar de suas loucuras, o bigodudo sabia muito bem o que queria:

"[...] Estou pintando quadros que me fazem morrer de alegria, estou criando com absoluta naturalidade, sem a menor preocupação estética, estou fazendo coisas que me inspiram com uma profunda emoção e estou tentando pintá-los com honestidade."

Dalí teve mais do que queria ter tido, penso eu, pois em seus últimos anos passou a fazer de tudo para chamar atenção, creio que ele sabia que seu fim estava próximo, morreu de insuficiência cardíaca e foi sepultado no Teatro-Museu Dalí, que o homenageia, em Figueres, município de umas das províncias espanholas na Catalunha, onde nasceu e faleceu. Mas, enquanto vivo, foi bastante reconhecido por suas belas obras, ganhou bastante dinheiro, até com Walt Disney ele trabalhou e ainda ganhou mais de um par de chifres e o pior (ou melhor) de tudo: foi casado.
Gala Éluard (louca do sexo) Dalí, 1894-1982
Gala Éluard Dalí, esposa de Salvador Dalí, era uma professora russa que tinha bastante culhão, foi a inspiração de muitos dos artistas contemporâneos ao marido, casando-se inclusive com um deles, Éluard é o sobrenome do pseudônimo do artista francês Paul Éluard (que na verdade se chama Eugène Emile Paul Grindel, inclusive, Gala também não é o real nome da falecida esposa de Salvador, seu nome é Elena Ivanovna Diakonova). Segundo alguns relatos, a senhora Elena era uma dessas maníacas sexuais e aparentemente, Dalí não era o suficiente para saciá-la, com isso, ela teve inúmeros casos extraconjugais, um deles com o ex-marido Paul, que na verdade é Eugène (como se pronuncia isso?) e o que vocês não sabem, é que Dalí apoiava-a, pois ele já havia sido (ou ainda era) praticante de candaulismo, que basicamente é observar a própria mulher ter relações sexuais com outro e não se sentir traído, o cara era um gênio das artes, porém, um corno manso (não que isso seja ruim, vai ver ele não era muito adepto à monogamia). Isso tudo aqui é só uma síntese de toda uma louca história, quem tiver interesse, recomendo que leiam os livros que falam desse pessoal todo aí, sem dúvidas, essa história daria uma série muito louca: O Salvador e seus demônios.

Falando em demônios, aqui vai um fato curioso para vocês: Salvador Dalí já foi exorcizado. O frei italiano Gabriele Maria Berardi (um homem com nome de mina? Esses italianos...), supostamente, exorcizou nosso querido Dalí, na França em 1947, a prova de que o acontecimento realmente ocorreu, é uma escultura de Cristo na cruz que, segundo o frei, foi a forma de agradecimento que recebeu do artista. A escultura foi descoberta em 2005 e verificada por dois peritos em Surrealismo espanhol que confirmaram que haviam similaridades entre a escultura do frei e outras obras de Dalí.

Óleo sobre tela, 24 cm x 33 cm. A Persistência da Memória, 1931. 


A Persistência da Memória, de 1931, é uma das obras de maior prestígio do bigodudo, ela está no Museu da Arte Moderna em Nova Iorque desde 1934. Dalí levou cerca de duas horas para pintar boa parte da obra (de um total de menos de cinco), enquanto sua mulher estava no teatro, ao menos foi o que contou em sua auto-biografia. Dalí teve como sua primeira crítica (dessa obra) sua esposa, que ao voltar do passeio (será que ela foi mesmo ao teatro?) teve uma reação de contraste entre espanto e admiração, ele questionou a ela se em três anos, ele seria capaz de esquecer a imagem, mas a resposta de sua esposa foi: "ninguém poderia esquecê-la, uma vez vista". A respeito do significado, do que representa a obra, o moço do bigode engraçado esclarece:

"Toda a minha ambição no campo pictórico é materializar as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista fúria da precisão".

Os relógios na obra, representam a Teoria da Relatividade de Einstein, na qual, o tempo se curva à gravidade; a paisagem ao fundo, é o local onde Dalí estava, o qual ele preferiu retratar sem símbolos metafóricos. Os insetos, no canto esquerdo da tela, são as únicas formas de vida presentes na arte, as formigas tem sentido negativo, visto que Salvador não gostava de formigas e em suas obras elas simbolizavam putrefação.

Até 1982, o maior golpe que ele havia experimentado em sua vida, foi a morte de sua mãe, mas na década de 80, sua esposa faleceu e Dalí foi a depressão, tendo tentando até suicídio em 1984. Para não ser esquecido, criou um perfil excêntrico, que perpetuou com seu bigode fino e olhos arregalados, em determinada época, vestiu-se até de palhaço para posar para uma foto. Segundo o escritor George Orwell, em 1940, "Dalí é ao mesmo tempo um desenhista excelente e um ser humano irritante", fazendo menção ao fato de que ele se portava como um comediante egocêntrico, sua ânsia para entrar para a história teve peso em suas obras ao final de sua vida, mas segundo George, "Uma coisa não invalida ou afeta a outra." E o escritor Montse Aguer, completa:  “É certo que Dalí usava a provocação como meio para ser conhecido, e os meios de comunicação foram uma grande forma de divulgar sua arte, mas, por trás disso, está um artista cheio de técnica, que conhece muito de arte e abriu os caminhos da arte contemporânea.” 

Salvador "Bigodudo" Dalí

Para o pessoal do Rio de Janeiro e de São Paulo, aqui vai uma dica: No Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro (CCBB Rio), está tendo uma exposição que leva o nome do bigodudo, desde o dia 30 de maio e irá até o dia 22 de setembro, depois seguirá para o Instituto Tomie Ohtake em São Paulo, onde ficará de outubro a dezembro. É a maior exposição do artista já feita no país, ela conta com 150 peças das principais coleções de obras de Dalí: são 29 pinturas, 80 desenhos e gravuras, documentos pessoais e fotografias, que auxiliam na compreensão da evolução do artista que começou a inovar na década de 20 e encerrou a vida consagrado e rico em 1989. 

E aqui termina nossa viagem!
Acompanhem a série, nossa última parada foi em Buenos Aires, na Argentina
Até a próxima estação, nos vemos por aí, abraços!
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