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quarta-feira, 23 de julho de 2014

2h37: É tudo uma questão de tempo


Em um mundo recheado de clichês envolvendo bullying, drogas, homossexualismo e abusos sexuais... fui destinado à assistir ‘2:37’, que traz esse universo visto e revisto diversas vezes por todo mundo, mas com uma pegada diferente e um estilo mais aconchegante e surpreendente.

O filme parte de um suicídio. Não sabemos quem cometeu e como ocorreu, somente o que houve. A partir daí somos levados às histórias de seis personagens completamente distintos, cada um com seus devidos problemas e questionamentos; nesse ponto vemos suas histórias sendo contadas através de seus próprios depoimentos e por meio de acontecimentos que acabam vindo à tona. Desde o começo sabemos que um deles cometerá suicídio e é isso que o torna tão interessante e sensacional, mas afinal, quem não aguentou tamanha pressão e decidiu fazer seu próprio fim?

A primeira impressão que temos é de estarmos vendo um documentário, o filme como um todo se mostra nesse estilo. Como já comentado dentre entrevistas e fóruns, a produção é inspirada em “Elefante”, filme de Gus Van Sant, que mostra de maneira bem única e intima as tragédias por trás dos adolescentes americanos; e assim como ele, o filme de Murali K. Thalluri tem seus momentos de pura tensão e visão alternada. Durante o filme vemos certas cenas de diversos ângulos e perspectivas diferentes; isso dá pela ligação entre os personagens centrais e em como suas vidas se cruzam todos os dias, em vários momentos sem que ninguém sequer se dê conta.

Os depoimentos dos personagens dão um ar mais real à produção. Com o passar da produção conseguimos nos identificar e entender certas situações e os motivos que as envolvem; o sentimento é tão puro e forte que passamos a nos importar com os personagens. Em certos momentos a vontade é de querer intervir e ajuda-los, de viver um pouquinho a vida deles só para poder dar um descanso, mesmo que só por 24 horas. O longa é bem bonito, e tem instantes bons, de emoção, mas também de muita agonia; é surpreendente quando descobrimos certas coisas acerca de alguns deles.

A atuação no geral é boa e causa impacto. O roteiro certas vezes não ajuda, mas não desmerece nenhuma cena e não deixa o filme confuso, apenas mais viciante. O que torna as coisas um tanto cansativas é a narrativa alternada, que tende a mudar justamente quando estamos começando a se apegar à certo personagem ou acontecimento, mas de alguma forma é até bom, para que possamos ver o filme por fora e não focar em uma única história e tratar as outras como meras coadjuvantes. Todos têm sua importância, todos tem seus momentos e todos se encontram às 2h37'.



O filme todo gira em torno desse horário, que inclusive é o título. Nós sabemos que algo aconteceu e que esse algo é um suicídio, daí passamos então, com base nos depoimentos, a tentar desvendar quem foi a vítima de si mesmo. Esse é o momento em que tudo se desenrolou e se interligou e quando voltamos à esse momento, que é o inicial também, é possível ficar ainda em dúvida sobre quem se suicidou. Depois de conhecermos a vida de cada um e suas aflições se torna mais difícil ainda saber o que de fato aconteceu. É possível saber antes quem é, mas o roteiro nos mantem tão presos aos personagens e seus interiores que os detalhes para descobrir o segredo acabam passando, muitas vezes, despercebidos.

Antes de ver o filme procurei saber mais sobre ele e acabei me deparando com certos comentários acusando o filme de ser limitado. Particularmente, não concordo. O fato dos depoimentos ocorrerem ao decorrer do filme, nos dispensando de desvendar e ler cada personagem, é algo que limita sim, mas não despreza a beleza e curiosidade que se dá ao decorrer das histórias. Mais pro final é até mesmo aceitável essa ideia, por podermos entender melhor como tudo aconteceu e o porquê.

‘2:37’ é um filme forte e, também, chocante. É o tipo de longa que dá uma bela lição de moral e de vida, nos fazendo olhar ao nosso redor e tentar perceber melhor as nossas falhas e o quão destruidoras elas podem ser para as pessoas e para o tempo que temos pra consertá-las.
Leonardo Marques

Careta aos olhos do mundo dito moderninho. Um estudante de jornalismo e futuro produtor, que pretende um dia fugir do Brasil e ser feliz apreciando a arquitetura mundial.

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