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quinta-feira, 10 de julho de 2014

(Re)conhecendo a cultura - Cecília Meireles

Brasil: Estação Literatura - Cecília Meireles.

A partir de hoje, (RE)CONHECENDO A CULTURA será uma série de artigos voltados para a valorização da cultura que viajará por vários países, afim de trazer não só para o brasileiro, o conhecimento sobre seu lar, como também a diversidade de culturas que há nos quatro cantos desse planeta, despertando quem sabe a curiosidade de conhecer as maravilhas que, em contra partida aos desastres que o homem faz, tem em todo o mundo.

Antes de começar, deixo a questão:
Você, brasileiro, conhece a cultura do seu país?

O que é cultura?
Cultura pode ser entendida de inúmeras formas, tal como a poesia, ela possui interpretações infindáveis, eu vejo como cultura tudo aquilo que caracteriza um grupo ou uma sociedade e segundo pesquisas que fiz na internet, existem conceitos desde populares a filosóficos e antropológicos para cultura. Vamos nos apropriar nessa viagem, do conceito o qual a cultura “é o conjunto de manifestações artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais de um povo ou civilização tais como a música, teatro, rituais religiosos, língua falada e escrita, mitos, hábitos alimentares, danças, arquitetura, invenções, pensamentos, formas de organização social, etc.”.

Sem dúvidas há uma grande quantidade de pessoas que possuem uma visão egocêntrica de cultura, o que gera inúmeros preconceitos que somente condenam as pessoas à prisão de não se permitir viajar pelo oceano que é a cultura. Mas, nessa viagem, fugiremos desse clichê baseado nos limites, vamos atravessar fronteiras. Cultura: Literatura brasileira. Vamos lá.

Embarcamos agora no trem-do-(re)conhecer que partirá em uma extraordinária excursão que rodará o mundo, tendo, sempre, em vista que concordamos que não conhecemos nossa cultura e tampouco a cultura do mundo como elemento essencial para a compreensão do que tentarei mostrar do ponto de vista de um estudante que o mundo quer conhecer. A nossa primeira descoberta será aqui, no Brasil. Agora estamos em movimento, rumo à próxima estação: Estação Literatura.

O trem-do-(re)conhecer se dirige agora para a segunda fase do modernismo brasileiro, no Rio de Janeiro, onde vamos parar e bater um bom papo sobre (e por que não, com?) Cecília Meireles a ‘poeta-ilha’, acompanhados de um cafezinho ou de um suquinho de laranja, servidos?

Primeiramente, quem foi Cecília Meireles?
Cecília exibindo o belo sorriso que leva em quase todas as suas fotos, "tá se exibindo pra solidão".

Cecília Benevides de Carvalho Meireles foi uma professora, poeta, jornalista, ativista, pintora, redatora e produtora de programas culturais e... Deixarei que ela se apresente:
Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno. (...) Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade.”
Bom, de cara já vemos o quanto uma mulher pode superar atribulações e levar consigo o sorriso mais encantador e apaixonante possível (sou suspeito a falar, se quer me ganhar, abra um sorriso e já tem metade do meu amor), a Ciça, como carinhosamente chamarei, é, com exceção das trágicas mortes em sua vida, bem parecida comigo: esse vazio existencial, a noção de transitoriedade, essa solidão que a tornou num dos nomes mais importantes da literatura nacional (mas diferente dela, eu não tenho tanta genialidade e tampouco habilidade para escrever e, portanto (mais que óbvio) não sou um dos nomes mais importantes da literatura nacional). O que seriam as obras dela se não a forma de expressar o que ela sentia? Afinal, como todo artista, é para isso que se tem a arte. No trecho a seguir, relatado pela própria Cecília, fica mais evidente ainda essa solidão e o exemplo de superação.
Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde foi nessa área que os livros se abriram, e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.”
Ciça rodeada de sua paixão e exibindo novamente o belo sorriso.

Ciça viveu em uma época onde mulheres não votavam, dependiam dos homens para tudo ou quase tudo e dificilmente desenvolviam uma carreira profissional. Mas, a pouco, foi dito que iríamos para a segunda fase do modernismo brasileiro, portanto, vamos entender os acontecimentos que antecederam, sucederam e que foram à fase.

Apesar de sua preconceituosa e conturbada época, Ciça estava em outro mundo, cresceu órfã de pais, criada pela avó materna que foi, de certo modo, responsável por direcioná-la para o mundo literário. Na primeira década do século XX, tínhamos ainda vigentes com bastante influência o parnasianismo e o simbolismo que a influenciaram por demais. Ela viu a primeira fase modernista brasileira surgir ruidosamente na Semana de 22, viveu num tempo contemporâneo da Primeira e Segunda Guerra Mundial. Este “outro mundo”, era dentro de si, onde ela compunha suas mais belas poesias, suas mais belas histórias que a muitos encantou e encanta, tal como a poesia bastante conhecida e que já devem ter ouvido ou lido trechos por aí, “Motivo”:

Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
Sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
No vento.
Se desmorono ou se edifico,
Se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
Ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.
(MEIRELES, Cecília. 1982)

Ciça era segura de si e de tudo o que pretendia dizer, com uma pegada simbolista, surreal e a sutileza do gongorismo tudo assimilado e fundido numa técnica pessoal que é possível notar facilmente, pois está reunida em suas obras como Romanceiro da Inconfidência e Viagem, esta última, que a consagrou como autora, são as características que fazem com que jovens como eu, em outras décadas, em outros séculos e em outro milênio, ouçam e tenham a necessidade de saber quem foi e o que fez Cecília Meireles pelo Brasil.

Como estudante, eu desejo que todos possam sentir o que ela representa e o que ela foi para o cenário nacional e mundial, lendo suas obras e se interessando pela literatura (contraditório é que o meu desejo que também é um conselho, vir de quem detesta ler, mas digo logo: sou culpado, mas estou cumprindo minha pena em regime semi-aberto com o maior prazer do mundo e garanto que com o tempo me acostumarei e passarei a amar), pois não há maior bem do que se envolver com as letras e se deixar levar pelas palavras, afinal, como dizia minha ex-professora de português: TUDO É TEXTO. Se tudo é texto, vamos interpretar a cultura como um modo de se expressar e lembrar que esse é um dos nossos direitos primordiais garantidos por lei. Viva a cultura: hip-hip-hurra! Até a próxima aventura!
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