Em
alguma parte da vida é muito provável que cada um de nós se depare com a
incompreensão da doação do nosso amor (se é que assim se pode definir). No
filme Viajo porque preciso, volto porque te amo, de 2010, dirigido
por Karim Ainouz e Marcelo Gomes, o protagonista é um geólogo que passa por um
momento de sensação de abandono.
Depois de certo tempo de doação a algum
companheiro, torna-se um costume se ver como complemento de outro. A
compreensão de unidade fica abalada. É normal pensar no companheiro como uma
extensão de si mesmo. Por isso (talvez) é tão difícil enxergar-se “inteiro”
depois de “perder” alguém.
Será que nascemos, realmente, inteiros? Será
que em algum momento possuímos, realmente, alguém para termos a capacidade de
perdê-la?
Significados do Dicionário Online de
Português:
Possuir: Ter em seu
poder; estar de posse de; ter como propriedade.
Perder: Ficar privado de, deixar de ter (algo que se possuía), deixar (alguma
coisa) extraviar-se.
A doação de cumplicidade “a toda hora” quando
se entra num relacionamento tem como consequência a perda do eu-singular. É como
se você ganhasse uma parte a mais, uma força, uma companhia, mas, perdesse a
sua particularidade por ter que deixar de ser um só. No filme, podemos perceber
o quão é angustiante a vida dele depois da separação. Notamos, então, a
dificuldade que ele tem de enxergar-se como completo.
Segundo o Dicionário Online de Português são
sinônimos de solidão: afastamento, encolhimento, isolamento, retiro e
retraimento. Observamos que a solidão pode ser definida como uma escolha. Mas
qual seria a essência da solidão? É o abandono ou o ato de ser abandonado? Quem
dita a solidão que alguém vai sentir é que sente ou quem “causa”?
Assistimos e entendemos o que o personagem
sente mesmo que ele não conceitue seus sentimentos, até porque, ou
principalmente porque, sentimentos não tem definição já que é algo interno que
não pode ser medido ou ditado. É fácil, também, notar que para quem já foi de
encontro ao “muro da decepção amorosa” alguma vez na vida, entender a nostalgia
do protagonista é muito mais fácil. É como se a compreensão fosse realizada por
meio apenas de significados e os significantes não existissem.
Encarar fracassos, frustrações, decepções e
medos que se tornam reais talvez seja a maneira mais eficaz de encontrarmos a
nossa essência, nosso ponto fraco e sabermos lidar com ele.
“Seis semanas longe de casa são como seis
gotas de um calmante poderoso. Um calmante que não resolve a dor, mas
tranquiliza o juízo”. Na frase do personagem podemos analisar que a distância
não serviu para amenizar a agonia sentida, mas acalma o pensamento. É como se,
por estar longe, a conformidade vem como obrigação, o “não ter o que fazer”, o
“não ter como ir atrás”, o “estar longe demais para ir de encontro”, mas, a
dor, como é interna, não pode ser mudada pelo exterior, pois a mudança de
cenário não pode mudar uma situação mental.
Inicialmente, a ausência da figura física de
José Renato é um incômodo, no decorrer do filme, a presença chega a tornar-se
dispensável por podermos nos confundir com o personagem. Em algum momento, José
Renato somos nós. Cada um de nós, em singular, em alguma parte do tempo é José
Renato.
O filme é cru, plano, estático, seco, sertão.
Do mesmo jeito é a solidão. Levando alguém na cabeça e viajando porque precisa
(o precisar absorve dois significados: o do trabalho e o de melhorar) numa
estrada que alterna de liberdade à prisão, onde nenhuma das duas mostra a hora
de seu fim. Algumas pessoas, em alguma parte da vida, precisarão viajar, porém,
nem todas voltarão. "Viajo porque preciso, não volto porque ainda te amo.”







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