Antes de mais nada leia sobre o filme em questão primeiro. Não veja a beleza física ou a falta de ligação dos diálogos, mas sim a beleza escondida nos olhares, nos sorrisos e principalmente nas lagrimas. Então vamos lá.
Adolescência é um período complicado e todo mundo já está cansado de saber disso, muitos por viver, outros por ver tantos filmes sobre o assunto que já se sentem cansados. O problema se dá mesmo quando além das dificuldades básicas dessa fase de transição, existem problemas familiares e crises existenciais que te levam à loucura.
Envolto nisso está o drama “The Black Balloon”, que transmite pro cinema uma parte do cotidiano de diversas famílias no mundo inteiro. A produção conta a história da família Mollinson, que acaba de se mudar para uma nova casa, tendo Thomas (Rhys Wakefield) que se adaptar ao novo colégio, novas amizades e à nova vida, enquanto ajuda os pais a cuidar de seu irmão Charlie (Lucas Ford), que é autista. Como se não bastasse, sua mãe Maggie (Toni Collette) está gravida de mais uma criança não podendo assim realizar todas as tarefas domesticas e seu pai, Simon (Erik Thomson), rege sua vida baseada em conversas com seu ursinho de pelúcia (Não tente entender, não explicam isso).
O mundo de Charlie é simplesmente único e particular, com o mesmo não conseguindo se expressar com palavras propriamente ditas e comunicando-se com a família através da língua de sinais. Sentindo-se realizado ao jogar jogos eletrônicos, Charlie muitas vezes se mostra até comportado, mas como todo altista, suas reações podem mudar do nada e seu humor é muito instável, deixando muitas vezes seus familiares em situações embaraçosas e conturbadas.
Thomas na verdade sempre apoiou o irmão e sempre ajudou no que pôde, mas também sempre se viu em um quadro familiar complicado e não satisfatório para si. Thomas se mostra uma genuína vítima de seus próprios pensamentos, questionando muitas vezes as situações que Charlie põe sua família, na forma como as pessoas reagem ao ver o irmão e com um misto de culpa, por em certos momentos sentir-se envergonhado por ter o irmão que tem e até mesmo ficar com raiva de suas atitudes, certa vez machucando até Charlie; e esperança de que seu irmão acorde normal um dia, ele até mesmo confessa à Jackie (Gemma Ward), uma menina que conheceu na escola, que ao fechar os olhos, gostaria de ver seu irmão diferente, normal.
As coisas começam a mudar mesmo com a chegada de Jackie. Para Thomas, Charlie é motivo de vergonha, impedindo que novas pessoas se aproximem dele e faça amizades, mas Jackie vê tudo com uma paixão e afeição tão grande, fazendo com que Thomas veja seu irmão de uma forma diferente, o aceite diferente e o entenda da melhor forma que conseguir.
O tema que o filme trata é bastante delicado. Autismo é uma situação trabalhosa e que merece muito mais do que atenção, merece amor e carinho incondicional. A forma como o filme mostra as dificuldades e pensamentos de todos sobre o assunto é bela e incrível; Logicamente existe um amor, mas o ser humano tende a se questionar e todo o quadro mostrado no filme se torna bem real por passar muito bem as sensações de Thomas sobre o irmão autista, a sua necessidade de ser apenas só mais um garoto normal na multidão, a vontade de não se envergonhar, mesmo não havendo motivo pra isso e a forma como Charlie demonstra seus sentimentos e vontades.Aliás, o mérito final e extremamente merecido nesse filme vai para o ator Luke Ford, que fez um dos melhores trabalhos de atuação na pele de Charlie. Ford conseguiu elevar o nível já mantido alto por Toni Collette, com sua expressão corporal e sentimental brilhante, literalmente sendo o personagem. É possível observar que houve uma pesquisa sobre o autismo e uma vontade enorme de tentar fazer o melhor e ouso dizer que foi muito mais do que o melhor, foi brilhante; definitivamente não existiria o Charlie sem Luke Ford. As cenas angustiantes que envolvem o personagem são tão verdadeiras que a dor é sentida por qualquer um, assim como a emoção que é ver o Charlie sorrir com um presente novo; a cena da apresentação de Charlie no colégio é tão emocionante que é quase impossível não se ver afogando-se em lagrimas e sorrisos involuntários.
“The Black Balloon” é um longa de aceitação. Mas não é só isso, é também um retrato fiel das dificuldades envolvendo o autismo, com seu cotidiano muitas vezes diferente e confuso, enquanto te envolve na pureza de Charlie e no amor que se deve ter pelos outros, independente do que se ouça ao redor. Charlie Mollinson é sua chance de perceber que o amor e a inteligência de um autista são tão puros que merecem ser louvados.







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