Outro dia chegou uma revista na minha
casa. Antes de folheá-la, vi um destaque, na capa, para uma reportagem com a
manchete “Alemanha – fomos ver de perto por que ela é o novo país do futebol”.
Rejeitei qualquer possibilidade de abrir a revista. Não por duvidar da
qualidade do conteúdo, que, por sinal, é extremamente dedutível.
Não é preciso ler a matéria para saber
que o que está escrito lá envolve categorias de base comprometidas com a
formação humana e profissional dos atletas, uma liga forte com clubes unidos em
busca do que é melhor para eles e práticas de responsabilidade fiscal para
evitar endividamento dos clubes. Isso tudo, é claro, resultando em uma seleção
forte.
Ignorar todos esses fatos que
contribuíram para o sucesso do futebol alemão é absurdo. O que me fez recusar a
leitura do conteúdo foi a infeliz manchete. Até entendo que dizer que a Alemanha
é “o novo país do futebol” é impactante e tende a dar audiência, mas é também
um total desconhecimento de futebol.
A Alemanha tem a melhor seleção do
mundo, dois dos melhores clubes dos últimos anos no futebol europeu, alguns dos
melhores jogadores do mundo e é a segunda maior vencedora de Copas. Em segundo
também vem o peso de sua camisa, que segue sendo não só maior que o da camisa
brasileira.
Ser a maior potência do futebol, hoje,
não transforma a Alemanha no país com mais tradição no esporte ou no país do
futebol. Quando o Barcelona impressionou o mundo com o tiki-taka – hoje,
defasado – que chegou à seleção espanhola, a Espanha também não se tornou o
país do futebol.
A expressão “país do futebol” é muito
mais que simplesmente o país com melhor desempenho no esporte. É uma marca que
envolve a tradição e a cultura de um país. Não há como desvincular o futebol do
Brasil, e vice-versa, e isso nos torna o detentor de tal alcunha.
Rotular qualquer nação, além do Brasil,
de “país do futebol” é querer alterar os fatos criados e afirmados ao longos de
décadas e ignorar a cultura brasileira, assim como seria encontrar em outra
nação a casa do carnaval e do samba.
Nosso futebol, infeliz e inegavelmente,
passa por uma crise. Mas somos, e sempre seremos o país do futebol. E entender
isso, com a ajuda de dirigentes bem intencionados, é o primeiro passo para
reerguer nosso esporte.







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