Não dá para ter a certeza de qual
foi o primeiro videoclipe da história, mas é possível dizer que os que
iniciaram a mistura de cinema e música foram os Beatles quando “cansaram” de
ouvir a gritaria de seus fãs e resolveram substituir seus shows ao vivo na TV
por gravações.
O termo videoclipe só começou a ser
usado na década de 70. Clipe deriva de clipping, recorte, pinça ou
grampo que, provavelmente, refere-se à forma narrativa em vídeo feita por
recortes de imagens. Em 1981, com o surgimento da Music TeleVision (MTV),
canal dedicado a apresentação apenas de videoclipes, houve uma explosão de
“música com imagem”. Dois anos mais tarde, foi criado o American Video
Awards, festival que premiava os clipes. A década ficou conhecida como a
“década do videoclipe” pelo fato da emissora impulsionar tanto a produção dos
curtas.
Com o passar do tempo, as ideias
para as ilustrações dos vídeos foram sendo aprimoradas e passaram a ter uma
estética própria com imagens em um ritmo frenético e que tentavam contar alguma
história em poucos minutos, o que é utilizado ainda até os dias atuais, mas,
existem também os que selecionam cenas e objetos aleatoriamente que “nada” tem
a ver com a cena.
Assistir a uma história contada por
imagens numa sequência selecionada para a obtenção de um sentido
pré-determinado é diferente de um conjunto de montagens aleatórias,
inicialmente, sem propósito. Primeiro que é muito mais fácil interpretar algo
montado com um objetivo de interpretação que ter que juntar cenas soltas para
buscar um sentido. Por exemplo, em um sonho é muito mais fácil à análise das
partes que o sentido da relação entre todos os “diferentes” sonhos de uma noite
inteira.
Outra questão evidenciada nos
videoclipes é a influência do consumismo. É comum o uso de símbolos que remetem
à moda de algum artista, como nos clipes da cantora Madonna que exercem tanto à
influência em suas roupas e acessórios como no seu próprio estilo, que também
serve como uma propaganda inspiratória.
As imagens podem perder a obrigação
de contar uma história linear e serem colocadas numa justaposição com uma única
intenção: a venda do produto (da música), podendo-se descartar quase que
totalmente a intenção de bricolagem com as montagens, ou seja, as imagens
aleatórias que ali foram colocadas, na verdade, possuem um sentido.
Há, ainda, a interpretação sonora
que é dada por imagens associadas a sons. Por exemplo, quando os produtores do
vídeo decidem construir o clipe a partir de interpretações imagéticas que
derivam dos signos representados pelas associações sonoras, a sequência obtida
terá uma interpretação, possivelmente, diferente da que será feita pelos que
verão o curta posteriormente.
Não necessitam obrigatoriamente se
relacionar com a letra, muitas vezes, relacionam-se com um sentido inicial e,
para quem assiste, assume outro significado, isso porque a variação dos ângulos
dos observadores sempre é mutável.
A tradução nem sempre é fiel á
música pela questão dos referentes. As associações que temos ao ouvir alguma
coisa, muitas vezes diferem. A semiose música-visual, portanto, irá diferir de
pessoa para pessoa.
Cenário e figurino tem o poder de
ditar moda, servir de estética, ou fazer algum tipo de referência. No clipe “Give
me all your luvin” de Madonna, estão presentes as três possibilidades. Sua
moda que está presente em todos os seus clipes, a estética que é muito bem
trabalhada, principalmente na questão das cores, e as referências quando, por
exemplo, as máscaras, que tiram a personalidade das dançarinas remetem a falta
de originalidade das cantoras atuais ou à ligação feita à banda Pink Floyd.
Alguns clipes assumem a narração
inversa: a letra diz algo e a construção narrativa imagética mostra o
contrário. Isso exemplifica a variação de interpretações dos videoclipes.
Muitas vezes, é necessário ler eles ironicamente ou como crítica indireta a
alguma coisa externa.
O conjunto finalizado pode servir
como a propaganda de algo, uma imagem de consumismo, um apelo em forma de
experiência de apreciação estética fonográfica. O campo de construção da junção
imagem-música possibilita a experimentação de linguagem, principalmente, por
existir a possibilidade de múltiplos sentidos de construção. Há a forma feita
do que é um videoclipe, mas não existe uma sequência predeterminada que indique
como se deva fazer, portanto, caso alguma produção decida que fará o máximo
possível para que a finalização seja realizada com a falta de sentido total,
ela estará livre para, entretanto, é necessário lembrar que, como as semioses
diferem de mente para mente, existe a chance de que alguém que veja o
videoclipe encontre sentido do início ao fim.
A possibilidade de multiface no
campo dos videoclipes permite notar que o espaço que serve para criar,
referenciar, chocar e vender serve também para a construção, reconstrução e
desconstrução de sentidos que se aplicam direta e indiretamente aos que criam e
aos que assistem partindo do ponto de que todas as experiências anteriores de
uma pessoa irá ditar a significação atribuída ao momento em que ela vai
assistir ao curta, ou seja, caso ela veja um clipe hoje e depois o reveja
alguns anos mais a frente, a interpretação poderá ser outra.








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